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Bolsonaro ajuda Moraes a soar 'tranquilão', mas deve reencontrar o 'xerife'

A decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de não ir para o enfrentamento no interrogatório do julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal favoreceu a estratégia do ministro Alexandre de Moraes de contrapor a imagem autoritária que críticos pintam dele.

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

Aliados de Moraes no Judiciário avaliam que a dinâmica entre os dois permitiu ao ministro mostrar uma atuação equilibrada e distante da condição de vítima que guarda raiva ou mágoa. Moraes se empenhou, inclusive, em mostrar seu lado alto astral, em geral reservado ao convívio íntimo com a família e amigos.

Bolsonaro, por sua vez, também se apresentou moderado. Disse que os arroubos golpistas são, no fundo, rompantes de seu temperamento e retórica. Quis dizer que é um sujeito falastrão, sim, mas antidemocrático jamais.

As versões apresentadas, contudo, não devem chegar até setembro, quando se espera que o julgamento comece. Quem conhece Moraes aposta que o ministro não pegará leve com Bolsonaro.

Juízes em geral dão peso relativo a depoimentos de réus em processo penal, partindo do pressuposto de que ninguém vai produzir prova contra si mesmo. A lei permite que o réu fique em silêncio e até minta nessas situações.

Com transmissão ao vivo —e na íntegra em rádios, portais e canais de notícia—, o aguardado encontro na Primeira Turma serviu menos para formar o juízo dos ministros. A visibilidade permitiu sobretudo que Moraes mostrasse a garantia da ampla defesa, sem apressar os depoimentos, nem mesmo quando Bolsonaro derivou para assuntos políticos sem conexão com o julgamento.

Decepcionados ficaram os bolsonaristas que não puderam fazer cortes para as redes sociais nem do ex-presidente confrontando seu suposto algoz nem de uma sessão de tortura que se esperaria de uma "ditadura da toga".

Exceto pelo convite irônico de Bolsonaro para Moraes ser seu vice em 2026, as cenas que viralizaram ficaram por conta de outros personagens. O advogado do general Augusto Heleno, Matheus Milanez, foi o campeão dos memes depois de pedir a Moraes mais tempo de intervalo para fazer refeições. Teve também a bronca que o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio deu no próprio defensor, entre outros.

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Do ponto de vista da estratégia de defesa dos réus, no entorno de Moraes se avalia que a mais malsucedida é de Heleno, que tentou negar todas as imputações feitas a ele. O general se recusou a responder às perguntas do ministro e reagiu apenas aos questionamentos do próprio advogado.

Disse que "não havia oportunidades" para atividades ilegais. Seu advogado interveio pedindo que deixasse "mais claro" se ele havia defendido atos ilícitos. Heleno ainda afirmou que foi em sentido figurado que ele falou em "virar a mesa" antes da eleição de 2022.

O delator, tenente-coronel Mauro Cid, deu depoimento em que tentou aliviar as acusações contra Bolsonaro e o núcleo crucial da trama golpista.

Nem o deputado Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) nem Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, negaram o 8/1 e a tentativa de golpe, o que pode trazer um alívio a eles na condenação.

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. O Canal UOL está disponível na Claro (canal nº 549), Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64), Samsung TV Plus (canal nº 2074) e no UOL Play.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

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