Curadora brasileira é demitida e escoltada em NY ao citar genocídio em Gaza

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A curadora brasileira Karolina Ziulkoski foi demitida e escoltada para fora de um evento em Nova York, depois de ter denunciado os crimes em Gaza. Ela trabalhava na YIVO Institute for Jewish Research e, ao fazer uma apresentação em um painel sobre uma exposição que realizou, fez uma referência ao "genocídio" contra o povo palestino.
O fato ocorreu na última quinta-feira, num dos centros culturais de Manhattan. A fala da brasileira fazia parte de um debate sobre uma exposição dedicada ao judeu Itskhok Rudashevski, que mantinha um diário durante o auge do nazismo. Nele, o jovem criticava alemães, lituanos e até mesmo outros judeus que participaram de ações do regime de Adolf Hitler, e muitos dos trechos do diário revelam um sentimento de traição.
"Antes de terminar, há outra coisa que eu gostaria de acrescentar", disse ao público. "Estou falando por mim mesma aqui. A coragem moral de Rudashevski realmente me inspirou. Acredito que a melhor maneira de honrar sua memória e a de todos os que morreram no Holocausto é falar contra o genocídio", disse. "E há um genocídio acontecendo agora na Palestina", afirmou.
"Assim como Rudashevski merecia viver, todos os palestinos também merecem. A paz não pode ser alcançada por meio da violência e da negação dos direitos humanos básicos a um grupo de pessoas. Ficar em silêncio é ser cúmplice. Obrigada", completou.
Tanto no início quanto no fim de sua intervenção, ela reiterou que falava por si mesma e não pela instituição em que trabalhava.
Ao UOL, ela explicou que não era possível não ver pontos de conexão entre o que os diários traziam e a situação atual. "Era importante para ele denunciar o que ele estava vendo", disse.
Na semana passada, o rabino da instituição cultural, que fazia parte do painel, tomou a palavra para afirmar que discordava da brasileira, enquanto membros da audiência e até mesmo funcionários do centro cultural se dirigiram a ela ao final para agradecer pela fala.
Mas a surpresa ocorreu quando ela foi abordada por um segurança que disse, de forma educada, que a acompanharia para fora do local quando ela estivesse preparada. Naquele momento, os convidados para o debate ainda estavam no recinto. "Fui escoltada para fora", contou.
Karolina imaginou que, depois de seu posicionamento, poderia ser chamada para uma conversa. Mas ela nunca aconteceu. Horas depois, ela recebeu um email com sua demissão e cortando-a de todo o sistema da instituição.
Na mensagem, a entidade alegava que sua fala havia minado a credibilidade da instituição, mesmo ela tento dito duas vezes que não falava em nome da entidade. Outro argumento era de que ela não teria pedido autorização para fazer a referência, uma exigência que não existia na preparação do evento.
Procurada pela reportagem, a instituição afirmou que não comentaria o tema. Na lista de perguntas enviadas pelo UOL, a liberdade de expressão da brasileira era um dos pontos. Mas a entidade não deu respostas.
Liderada por Jonathan Brent, a instituição guarda o maior arquivo sobre os judeus no Leste Europeu, com 24 milhões de artefatos.
A brasileira passou a trabalhar na entidade em 2018, depois que o centro recebeu uma doação para fazer um museu online. Bisneta de poloneses que emigravam ao Brasil, ela criou o conceito do museu e da exposição, que segue a vida de uma pessoa.
Outra exposição foi realizada para conscientizar sobre o impacto do Holocausto. Nela, também organizada pela brasileira, um dos objetivos era o de explicar o motivo pelo qual se estuda o Holocausto: para entender a história e para que ele nunca se repita.
História
Criado em 1925 em Berlim e Vilnius, o instituto teve o apoio dos principais intelectuais e acadêmicos daquele momento, incluindo Albert Einstein e Sigmund Freud. Em 1940, porém, ele foi obrigado a se mudar para a cidade de Nova York.
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